Mateus 13 comentado (Jesus ensina através de parábolas)
O capítulo 13 de Mateus é frequentemente chamado de "o capítulo das parábolas", e sua mensagem central é a revelação dos mistérios do Reino dos Céus. Através de histórias simples e do cotidiano, Jesus explica como o Reino de Deus opera no mundo, como ele cresce e qual será seu destino final.
![]() |
Jesus prega para multidões |
Capitulo 13 completo e comentado
2 E ajuntaram-se perto dele tantas multidões, de maneira que ele entrou num barco e se sentou; e toda a multidão ficou na praia,
💬 Este versículo marca o início de uma nova fase no ministério de Jesus. O ato de sair da casa e ir para a beira do mar simboliza uma mudança de contexto: do ambiente íntimo e familiar para um local público e acessível, onde grandes multidões poderiam se reunir. A imagem do mar também pode representar a vastidão das pessoas que o buscavam, sedentas por sua mensagem.
A chegada de multidões demonstra o impacto e a crescente popularidade de Jesus. Ele usa um barco como um púlpito natural. Sentar para ensinar era uma prática comum entre os mestres da época, indicando autoridade. Ao se afastar da multidão, Jesus consegue ser visto e ouvido por todos, demonstrando sua habilidade de se adaptar para comunicar sua mensagem de forma eficaz.
3 E ele lhes falou muitas coisas por parábolas. Ele disse: Eis que o semeador saiu a semear.
4 E enquanto semeava, caiu parte [das sementes] junto ao caminho, e vieram as aves e a comeram.
5 E outra [parte] caiu entre pedras, onde não havia muita terra, e logo nasceu, porque não tinha terra funda.
💬 Aqui, Jesus introduz o conceito de parábolas, que são histórias simples com significados profundos. A parábola do semeador é a primeira de muitas. A figura do semeador pode ser vista como o próprio Jesus ou qualquer pessoa que compartilha a palavra de Deus. A semente representa a palavra ou a mensagem do Reino. O ato de semear, por sua vez, simboliza a ação de proclamar a palavra a todos, sem distinção.
Esta parte da parábola representa as pessoas que ouvem a mensagem, mas não a absorvem de forma alguma. A semente que cai no caminho, um solo duro e pisoteado, não consegue penetrar. As aves, que vêm e a comem, simbolizam as distrações, as tentações ou a incredulidade que rapidamente roubam a palavra do coração de quem a ouve.
O versículo 5 descreve as pessoas que recebem a palavra com entusiasmo inicial. Elas aceitam a mensagem rapidamente, mas sua fé não tem profundidade. O solo rochoso simboliza um coração que não está totalmente preparado para receber a palavra, faltando a profundidade necessária para que a raiz se firme. A falta de resiliência e a dependência de emoções momentâneas tornam a fé frágil.
6 Mas quando o sol surgiu, queimou-se; e por não ter raiz, secou-se.
7 E outra [parte] caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram.
8 E outra [parte] caiu em boa terra, e rendeu fruto: um a cem, outro a sessenta, e outro a trinta.
|fn: cem, sessenta, trinta – isto é, produz cem, sessenta ou trinta vezes mais que o que foi semeado
💬 O sol, que normalmente nutre, aqui se torna um agente de destruição. Ele representa as provações, perseguições ou dificuldades que surgem na vida de quem aceitou a palavra. Por não ter uma raiz profunda, a fé que nasceu rapidamente também murcha e morre diante da adversidade. Este ponto destaca a importância da perseverança e da resiliência espiritual.
Esta seção da parábola representa as pessoas que ouvem a palavra, mas a permitem ser sufocada pelas preocupações da vida. Os espinhos simbolizam as ansiedades, as riquezas, as ambições e os prazeres do mundo. Essas "coisas" competem com a palavra de Deus no coração da pessoa, impedindo que ela dê frutos. Embora a semente germine, o crescimento dos espinhos impede seu desenvolvimento completo.
Finalmente, a semente que cai em boa terra simboliza as pessoas que não apenas ouvem a palavra, mas a acolhem de verdade. A "boa terra" representa um coração receptivo e preparado para a mensagem. O resultado é o crescimento e a frutificação. As diferentes medidas de rendimento (cem, sessenta, trinta) mostram que a resposta à palavra de Deus varia, mas toda frutificação é valiosa. O importante é o crescimento, e não necessariamente o quão produtivo é.
9 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
|fn: N4 omite "para ouvir"
10 Então os discípulos se aproximaram, e lhe perguntaram: Por que falas a eles por parábolas?
11 E ele lhes respondeu: Porque a vós é dado saber os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não é dado.
|fn: N4 omite "lhes"
12 Pois a quem tem, lhe será dado, e terá em abundância; mas a quem não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
13 Por isso falo a eles por parábolas; porque vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem, nem entendem.
14 Assim neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: De fato ouvireis, mas não entendereis; De fato vereis, mas não enxergareis.
15 Porque o coração deste povo está insensível; Com seus ouvidos dificilmente ouvem, e seus olhos fecharam; A fim de não haver que seus olhos vejam, seus ouvidos ouçam, Seus corações entendam, e se arrependam, E eu os cure.
|fn: Ref. Isaías 6:9-10
💬 Esta frase "quem tem ouvidos ouça" é um chamado para atenção e à responsabilidade. Jesus não está se referindo a ouvidos físicos, mas à capacidade espiritual de discernir e compreender a verdade. É um convite para que as pessoas não apenas escutem as palavras, mas que reflitam e as apliquem em suas vidas. A frase sugere que a mensagem é mais profunda do que parece e que apenas aqueles com o coração e a mente abertos serão capazes de realmente entendê-la.
Os discípulos percebem que a mensagem de Jesus não está sendo totalmente compreendida pelas multidões. Eles ficam intrigados com o motivo de Jesus usar uma linguagem figurada, que parece esconder o verdadeiro significado em vez de revelá-lo. Esta pergunta mostra que a intenção por trás das parábolas não era óbvia nem mesmo para aqueles que estavam mais próximos de Jesus.
Jesus explica que o uso de parábolas serve para diferenciar. O "mistério do Reino dos céus" não é algo para ser escondido de forma maliciosa, mas sim algo que exige um coração receptivo. Os discípulos, por estarem com ele e desejarem aprender, foram preparados para receber a revelação. As multidões, por outro lado, tinham corações endurecidos e não estavam prontas para a verdade completa, de modo que a parábola agia como um filtro.
Este é um princípio espiritual e universal. Aqueles que usam e valorizam o conhecimento que lhes é dado receberão mais sabedoria e entendimento. Em contraste, aqueles que não valorizam ou usam o que têm, acabam perdendo até mesmo a oportunidade de entender. No contexto da parábola, os discípulos "tinham" o desejo de aprender, e por isso receberam mais. As multidões, por não terem essa atitude, perderam a oportunidade de compreender a fundo.
Aqui, Jesus usa uma ironia. As pessoas veem Jesus, ouvem suas palavras, mas não conseguem enxergar o significado espiritual nem entender a essência da mensagem. As parábolas revelam a verdade para aqueles que buscam, mas ao mesmo tempo ocultam essa verdade daqueles que têm uma atitude de indiferença ou ceticismo.
Jesus conecta sua própria obra à profecia de Isaías (Isaías 6:9-10). Ele mostra que a reação das multidões não era uma surpresa, mas o cumprimento de um padrão histórico de rejeição. A profecia de Isaías descreve um povo que conscientemente endurece o coração para não precisar se arrepender. Ao fechar os olhos e ouvidos, eles evitam o arrependimento e, consequentemente, a cura divina. Este trecho mostra a soberania de Deus, mas também a responsabilidade humana pela sua própria incredulidade.
16 Mas benditos são os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem.
|fn: benditos – ou “bem-aventurados”
💬Jesus declara os discípulos "benditos", ou seja, abençoados, por algo que vai além da visão e audição física. Eles veem e ouvem com a mente e o espírito. A visão deles não se limita às ações de Jesus, mas alcança a compreensão de que ele é o Messias prometido. A audição deles não se limita às palavras, mas capta a profundidade e o mistério do Reino de Deus. Esta bênção não é apenas um privilégio, mas uma consequência da sua atitude de abertura e busca por entender. Eles tinham um coração receptivo, o que lhes permitiu receber a revelação que os outros não receberam.
17 Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, mas não viram; e [desejaram] ouvir o que vós ouvis, mas não ouviram.
💬 Jesus coloca a experiência deles acima da de grandes figuras do Antigo Testamento, como os profetas e os homens justos que viveram antes dele. Eles eram pessoas de fé profunda, que buscavam ardentemente a Deus e ansiavam pelo cumprimento das promessas messiânicas.
No entanto, eles só viram o Messias de forma profética, através de visões e promessas. Os discípulos, por outro lado, estavam vivenciando o cumprimento dessas profecias de perto. Eles viam Jesus com seus próprios olhos e ouviam as suas palavras com seus próprios ouvidos. Isso torna a experiência deles única e extremamente privilegiada, mostrando que o Reino de Deus não é apenas uma promessa, mas uma realidade que se manifesta em Jesus.
18 Portanto, ouvi vós a parábola do semeador:
19 Quando alguém ouve a palavra do Reino e não a entende, o maligno vem e arranca o que foi semeado em seu coração; este é o que foi semeado junto ao caminho.
💬 A semente que cai "junto ao caminho" representa a pessoa que ouve a mensagem do Reino, mas não a entende. Jesus explica que o maligno age rapidamente para "arrancar" o que foi semeado. Isso significa que, quando a Palavra não consegue penetrar no coração por falta de abertura ou entendimento, ela se torna vulnerável e é facilmente levada por distrações, tentações ou incredulidade, antes que possa criar raízes.
20 E o que foi semeado entre as pedras é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria,
21 mas não tem raiz em si mesmo. Em vez disso, dura um pouco, mas quando vem a aflição ou a perseguição pela palavra, logo se tornam infiéis.
|fn: tornam infiéis – tradicionalmente “escandalizam-se”
💬 A semente que cai "entre as pedras" representa a pessoa que recebe a Palavra com grande entusiasmo e alegria inicial. Essa alegria, no entanto, é superficial, pois o coração não tem profundidade espiritual. A falta de "raiz" faz com que a fé seja frágil e incapaz de suportar o calor das provações. Quando a aflição ou a perseguição surge por causa da Palavra, a pessoa "logo se torna infiel" ou "se escandaliza", ou seja, se decepciona e se afasta. A fé não sobrevive às dificuldades porque foi construída sobre emoção, e não em um alicerce sólido de convicção.
22 E o que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, mas a ansiedade com o tempo presente e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica sem dar fruto.
💬 O solo com "espinhos" representa um tipo de ouvinte que até aceita a Palavra, mas permite que ela seja sufocada. Os espinhos são as ansiedades da vida presente e a sedução das riquezas. Essa pessoa vive com o coração dividido, buscando a fé e ao mesmo tempo se apegando às preocupações terrenas, ao materialismo e aos prazeres. Essa tensão impede que a semente cresça e dê frutos, tornando a fé infrutífera.
Em resumo, a parábola serve como um espelho para que cada um reflita sobre o estado de seu próprio coração. Ela nos ensina que não basta apenas ouvir a Palavra de Deus; é preciso preparar o solo do coração para recebê-la com profundidade, superando os obstáculos internos e externos para que ela possa crescer e produzir frutos duradouros.
23 Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve e entende a palavra, e o que dá e produz fruto, um a cem, outro a sessenta, e outro a trinta.
24 E ele lhes declarou outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante a um homem que semeia boa semente em seu campo,
25 Mas, enquanto as pessoas dormiam, o inimigo dele veio, semeou joio entre o trigo, e foi embora.
26 E, quando a erva cresceu e produziu fruto, então apareceu também o joio.
27 Então os servos do dono da propriedade chegaram, e lhe perguntaram: “Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? De onde, pois, veio o joio?”
💬 O versículo 23 conclui a explicação da parábola do semeador com uma nota de esperança. A semente que cai em "boa terra" representa a pessoa que não apenas ouve a Palavra, mas a "entende" e a coloca em prática. A compreensão aqui é mais do que intelectual; é uma assimilação espiritual que resulta em uma vida frutífera. O rendimento variado ("cem, sessenta, e trinta") mostra que o sucesso espiritual não é uniforme, mas toda a produção de frutos é valiosa. O essencial é que a semente cresça e cumpra seu propósito.
Em seguida, a partir do versículo 24, Jesus introduz uma nova parábola para complementar a primeira: a parábola do joio. Essa história aprofunda a compreensão sobre o Reino de Deus e a realidade do mal no mundo.
O "homem que semeia boa semente em seu campo" representa Jesus, que planta a sua mensagem e as pessoas do Reino no mundo. O campo é o mundo, e a boa semente são os "filhos do reino".
No entanto, a parábola revela um elemento inesperado e perturbador. "Enquanto as pessoas dormiam," o inimigo de Deus (Satanás) age sorrateiramente, semeando o "joio" (ervas daninhas semelhantes ao trigo) entre o trigo. O sono das pessoas pode simbolizar a negligência espiritual ou a falta de vigilância. O inimigo não ataca abertamente, mas de forma oculta e traiçoeira, inserindo a maldade onde a bondade deveria crescer.
O problema se torna evidente apenas no momento em que a colheita se aproxima. Quando o trigo (a boa semente) começa a produzir fruto, o joio também aparece, mostrando que o mal conseguiu se infiltrar e crescer ao lado do bem. A surpresa dos servos ("Senhor, não semeaste boa semente no teu campo?") reflete a perplexidade humana diante da presença do mal em um mundo criado por Deus. A parábola, portanto, prepara o terreno para a próxima lição, que abordará a paciência de Deus em relação ao mal e o momento de seu julgamento final.
28 E ele lhes respondeu: “Um inimigo fez isto”. Em seguida, os servos lhe perguntaram: “Queres, pois, que vamos e o tiremos?”
29 Ele, porém, lhes respondeu: “Não, para não haver que, enquanto tirais o joio, arranqueis com ele também o trigo.
30 Deixai-os crescer ambos juntos até a colheita; e no tempo da colheita direi aos que colhem: ‘Recolhei primeiro o joio, e amarrai-o em molhos, para o queimarem; mas ao trigo ajuntai no meu celeiro’.”
31 Ele lhes propôs outra parábola: O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que alguém tomou e semeou no seu campo.
32 De fato, dentre todas as sementes, esta é a menor. Mas quando cresce, é a maior das hortaliças; e se torna [tamanha] árvore, que as aves do céu vêm e se aninham em seus ramos.
💬Os versículos 28 a 30 continuam a parábola do joio, revelando a resposta do dono do campo à descoberta do mal. A frase "um inimigo fez isto" confirma a origem do mal no mundo: ele não vem de Deus, mas de uma força maligna. O pedido dos servos para arrancar o joio imediatamente ("Queres, pois, que vamos e o tiremos?") reflete uma atitude impaciente e zelosa, que busca eliminar o mal de forma rápida e definitiva.
A resposta do dono, no entanto, é surpreendente e cheia de sabedoria: "Não, para não haver que, enquanto tirais o joio, arranqueis com ele também o trigo." Isso demonstra a paciência divina e a complexidade do julgamento. A completa separação entre o bem e o mal é impossível neste momento, pois eles estão intimamente entrelaçados. Uma tentativa prematura de erradicar o mal resultaria em danos colaterais, prejudicando os justos. A instrução é deixar ambos crescerem juntos "até a colheita", que representa o fim dos tempos. Nesse momento, o julgamento final será perfeito e a separação será feita sem erros. O joio será colhido e queimado, enquanto o trigo será levado para o celeiro, simbolizando a salvação dos justos.
A partir do versículo 31, Jesus apresenta uma nova parábola, a parábola do grão de mostarda, para ilustrar outra característica do Reino dos Céus.
Ele compara o Reino dos Céus a um grão de mostarda, que, apesar de ser a "menor" de todas as sementes, cresce e se torna uma das "maiores das hortaliças" ou até mesmo uma árvore. Essa parábola ensina sobre o crescimento surpreendente do Reino de Deus.
O princípio humilde: O Reino de Deus começou de forma pequena e insignificante, com Jesus e um grupo de poucos discípulos. A história de Jesus não tinha o poder ou a visibilidade dos impérios da época.
A expansão extraordinária: Assim como o grão de mostarda, o Reino cresceria de forma notável, expandindo-se para se tornar uma força influente no mundo.
O abrigo para todos: A parábola conclui dizendo que as "aves do céu vêm e se aninham em seus ramos." Isso simboliza o papel do Reino como um lugar de abrigo e refúgio para pessoas de todas as nações. Ele cresceria para acolher e proteger todos os que o buscam.
Juntas, a parábola do joio e a do grão de mostarda oferecem uma visão completa do Reino dos Céus: ele existe em meio ao mal no mundo e, apesar de ter um início modesto, crescerá de forma poderosa para abrigar a todos, enquanto espera pelo momento certo do julgamento divino.
33 Ele lhes disse outra parábola: O Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha, ) até que tudo ficasse fermentado.
|fn: três medidas de farinha – equiv. Cerca de 40 litros (1 medida de farinha era aproximadamente 13 litros
34 Tudo isto Jesus falou por parábolas às multidões. Sem parábolas ele não lhes falava,
35 para que se cumprisse o que foi falado pelo profeta, que disse: Abrirei a minha boca em parábolas; Pronunciarei coisas escondidas desde a fundação do mundo.
|fn: N4 omite "do mundo" |fn: Ref. Salmos 78:2
36 Então Jesus despediu as multidões, e foi para casa. Seus discípulos se aproximaram dele, e disseram: Explica-nos a parábola do joio do campo.
|fn: N4 omite "Jesus"
37 E ele lhes respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do homem.
|fn: N4 omite "lhes"
38 E o campo é o mundo; e a boa semente, estes são os filhos do Reino; e o joio são os filhos do maligno.
39 E o inimigo, que o semeou, é o diabo; e a colheita é o fim da era; e os que colhem são os anjos.
|fn: fim da era – tradicionalmente “fim do mundo”, mas a palavra grega se refere ao período de tempo
40 Portanto, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim também será no fim desta era.
|fn: TR, RP: desta - N4: da
💬 A Parábola do Fermento e o Poder Transformador do Reino
A parábola do fermento (versículo 33) é a terceira que Jesus conta, e ela complementa a ideia da parábola do grão de mostarda. Se o grão de mostarda fala sobre o crescimento externo e visível do Reino, o fermento fala sobre sua influência interna e sutil.
O Fermento: O fermento não age de forma óbvia. Ele é misturado à massa e, lentamente, invisivelmente, faz com que toda a massa cresça. Essa é uma imagem poderosa da forma como o Reino de Deus trabalha no coração das pessoas e na sociedade.
A Mulher e a Massa: A mulher representa a Igreja, que espalha a mensagem do Reino. As "três medidas de farinha" representam a totalidade, mostrando que o Reino de Deus tem o poder de influenciar e transformar a sociedade como um todo, de dentro para fora. A sua influência não é feita com poder ou força, mas de forma gradual e penetrante, transformando corações e mentes até que a transformação seja completa.
A Razão das Parábolas: Cumprimento da Profecia
Os versículos 34 e 35 explicam por que Jesus usava parábolas. A escolha de usar histórias figuradas não era aleatória, mas um cumprimento da profecia do Salmo 78:2.
"Abrirei a minha boca em parábolas": As parábolas serviam para revelar verdades espirituais profundas, mas de uma forma que exigia um coração receptivo para entendê-las.
"Pronunciarei coisas escondidas desde a fundação do mundo": Jesus, ao usar parábolas, estava desvendando mistérios sobre o Reino de Deus que estavam ocultos por séculos. Apenas aqueles que tinham "ouvidos para ouvir" (conforme mencionado anteriormente) poderiam captar a revelação que as parábolas continham.
A Explicação da Parábola do Joio
Depois de se afastar das multidões, Jesus é questionado pelos seus discípulos (versículo 36) para que lhes explique a parábola do joio. A resposta de Jesus (versículos 37-40) é um dos poucos casos em que ele oferece uma interpretação detalhada de suas parábolas.
O Semeador: O "Filho do homem," que é o próprio Jesus.
O Campo: O mundo.
A Boa Semente: "Os filhos do Reino" - aqueles que são seguidores de Cristo.
O Joio: "Os filhos do maligno" - aqueles que seguem o diabo.
O Inimigo: O diabo.
A Colheita: "O fim da era" - o tempo do juízo final.
Os Ceifeiros: Os anjos.
Essa explicação revela o drama cósmico que está se desenrolando. O joio e o trigo crescem juntos no mundo, mas o fim é certo. Jesus reafirma que haverá uma separação final e completa. Assim como o joio é queimado no fogo, o julgamento virá para os "filhos do maligno," enquanto a salvação espera pelos "filhos do Reino." Isso oferece clareza e reforça a importância de viver de acordo com os princípios do Reino enquanto se aguarda o retorno de Cristo.
41 O Filho do homem enviará seus anjos, e eles recolherão do seu Reino todas as causas do pecado, assim como os que praticam injustiça,
|fn: causas do pecado – tradicionalmente “escândalos”
42 e os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes.
43 Então os justos brilharão como o sol, no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
|fn: N4 omite "para ouvir"
44 O Reino dos céus também é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem, depois de achá-lo, escondeu. Então, em sua alegria, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.
|fn: N4 omite "também"
45 O Reino dos céus também é semelhante é a um homem negociante, que buscava boas pérolas.
46 Quando este achou uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e a comprou.
O Juízo Final e a Recompensa (Versículos 41-43)
Jesus continua a explicação da parábola do joio, detalhando o que acontecerá no "fim da era".
A Purificação: O "Filho do homem" (Jesus) enviará seus anjos para "recolher do seu Reino todas as causas do pecado, assim como os que praticam injustiça". Isso significa que o juízo final não será apenas uma separação entre o bem e o mal, mas uma completa purificação de tudo o que corrompe o Reino.
A Condenação: Os ímpios serão lançados "na fornalha de fogo", um símbolo de punição e separação eterna de Deus, onde "haverá choro e ranger de dentes". É uma imagem de sofrimento e desespero que serve como um aviso solene.
A Recompensa: Em contraste, os justos "brilharão como o sol, no Reino de seu Pai." Essa imagem de luz e glória representa a exaltação, a pureza e a recompensa final para aqueles que escolheram seguir a Cristo. A frase "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" é repetida para reforçar a seriedade e a importância desta mensagem.
O Valor Inestimável do Reino (Versículos 44-46)
Após a explicação sobre o juízo, Jesus conta duas parábolas curtas e poderosas: a do tesouro escondido e a da pérola de grande valor. Ambas têm a mesma mensagem principal: o Reino de Deus tem um valor que supera tudo o mais na vida.
O Tesouro Escondido: O homem que encontra um tesouro em um campo e "em sua alegria, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo" representa a pessoa que descobre o Reino de Deus de forma inesperada. A sua reação não é de hesitação, mas de alegria. O valor do tesouro é tão grande que ele está disposto a sacrificar tudo o que possui para obtê-lo.
A Pérola de Grande Valor: O "homem negociante, que buscava boas pérolas" representa aquele que busca a verdade de forma deliberada. Ao encontrar uma "pérola de grande valor", ele faz o mesmo que o homem da primeira parábola: vende "tudo quanto tinha" para obtê-la.
Essas duas parábolas, embora com contextos diferentes (uma descoberta inesperada e uma busca intencional), ensinam a mesma lição. O Reino de Deus é a maior riqueza que se pode ter. A resposta adequada ao encontrá-lo é uma entrega total e um sacrifício completo, pois nenhum bem material ou ambição terrena pode se comparar a ele. A alegria em vendê-lo tudo por ele demonstra que essa não é uma perda, mas o maior ganho de todos.
47 O Reino dos céus também é semelhante a uma rede lançada ao mar, que colhe toda espécie [de peixes] .
48 E quando está cheia, [os pescadores] puxam-na à praia, sentam-se, e recolhem os bons em cestos, mas os ruins lançam fora.
49 Assim será ao fim da era; os anjos sairão, e separarão dentre os justos os maus,
50 e os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes.
💬 A Parábola da Rede de Arrastão (Versículos 47-48)
Jesus compara o Reino dos céus a uma rede de arrastão, que, ao ser lançada no mar, recolhe "toda espécie" de peixes, bons e ruins. Essa imagem representa o trabalho da Igreja e do Reino de Deus na história: a mensagem de salvação é espalhada por todo o mundo e atinge todo tipo de pessoa. No entanto, nem todos os que ouvem e se associam ao Reino (a rede) são verdadeiros seguidores.
A parábola mostra que a separação não ocorre durante a pesca (ou seja, no presente), mas sim na praia. Os pescadores (os anjos) se sentam e realizam a triagem, separando os "bons" dos "ruins". Isso indica que a coexistência do bem e do mal é uma realidade no mundo, mas não é a condição final.
O Juízo Final e a Separação (Versículos 49-50)
Jesus novamente oferece a interpretação da parábola, assim como fez com a do joio. A "rede" é o Reino de Deus no mundo, e a "praia" é o fim da era. Os "pescadores" são os anjos, que terão a tarefa de separar os maus dos justos. Os maus serão lançados "na fornalha de fogo", com o consequente "choro e ranger de dentes", uma imagem que reitera a punição eterna. Os justos, por outro lado, são os "peixes bons" que são recolhidos nos cestos (símbolo de segurança e salvação).
Essa parábola reforça a mensagem de que, apesar da convivência temporária de justos e ímpios, haverá um dia de acerto de contas. O juízo final é uma certeza, e a parábola serve como um alerta e um chamado ao arrependimento. Ela deixa claro que a filiação ao Reino de Deus exige mais do que apenas estar "na rede"; requer uma verdadeira transformação que se reflete em uma vida justa.
51 E Jesus lhes perguntou: Entendestes todas estas coisas? Eles lhe responderam: Sim, Senhor.
|fn: N4 omite "E Jesus lhes perguntou" |fn: N4 omite "Senhor"
52 E ele lhes disse: Portanto todo escriba que se tornou discípulo no Reino dos céus é semelhante a um chefe de casa, que do seu tesouro tira coisas novas e velhas.
💬 A Lição do Escriba Sábio (Versículos 51-52)
Jesus, após ensinar todas as parábolas, pergunta aos seus discípulos se eles entenderam a mensagem. A resposta "Sim, Senhor" mostra que a revelação espiritual prometida a eles (conforme o versículo 11) se concretizou. Em seguida, Jesus os compara a um "chefe de casa, que do seu tesouro tira coisas novas e velhas."
Esta analogia é um elogio e uma lição para os discípulos.
"Chefe de casa": Refere-se a um escriba, um mestre da lei que tem a responsabilidade de ensinar as Escrituras.
"Tesouro": Simboliza o conhecimento do Reino de Deus que lhes foi revelado.
"Coisas novas e velhas": Significa que um verdadeiro mestre do Reino deve saber combinar a sabedoria das Escrituras antigas ("velhas") com as novas revelações de Jesus ("novas"). Eles não deveriam rejeitar o Antigo Testamento, mas entender que ele se cumpre e é iluminado por meio dos ensinamentos de Jesus.
53 E aconteceu que, quando Jesus acabou essas parábolas, retirou-se dali.
54 E vindo à sua terra, ensinava-os na sinagoga deles, de tal maneira que ficavam admirados, e diziam: De onde [vêm] a este tal sabedoria, e os milagres?
55 Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?
56 Não estão todas as suas irmãs conosco? Ora, de onde [vem] a este tudo isto?
57 E se ofenderam por causa dele. Mas Jesus lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser em sua terra, e em sua casa.
|fn: ofenderam – tradicionalmente : escandalizaram
58 E não fez ali muitos milagres por causa da incredulidade deles.
A Rejeição em Sua Própria Terra (Versículos 53-58)
Jesus retorna à sua cidade natal, Nazaré. O contraste entre a compreensão dos discípulos e a atitude dos moradores de Nazaré é chocante. Embora eles se admirem de sua sabedoria e milagres, logo o rejeitam. A admiração deles se transforma em desdém. Eles o veem apenas como "o filho do carpinteiro", e a familiaridade com sua família ("sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas") se torna um obstáculo para a fé. Eles se ofendem e questionam a origem de seu poder e sabedoria, pois o conheciam apenas como o filho de um trabalhador.
A resposta de Jesus, "Não há profeta sem honra, a não ser em sua terra, e em sua casa," é um lamento amargo. Ela mostra que a familiaridade, a incredulidade e a mentalidade estreita são barreiras que impedem as pessoas de reconhecerem a manifestação de Deus. A falta de fé deles foi tão grande que, como o versículo 58 revela, Jesus "não fez ali muitos milagres por causa da incredulidade deles." Isso não significa que o poder de Jesus fosse limitado, mas que a incredulidade do povo criava uma barreira para a manifestação desse poder. A falta de fé deles os impediu de receber as bênçãos que buscavam.
Todos os capítulos de Mateus comentado.
📑 Créditos da versão bíblica usada são da Blive (Bíblia Livre)
💬 Comentários são de Lucas Ajudarte.
💣 Obrigado por ler esse conteúdo, lançaremos novos capítulos comentados todos os sábados, faça a sugestão de temas para estudos bíblicos em nosso Telegram.
Postar um comentário