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A morte de João Batista, Jesus anda sobre as águas e a multiplicação dos pães (Mateus 14 comentado)

Mateus 14 Comentado (A morte de João Batista e a multiplicação dos pães)

Mateus 14 narra a morte de João Batista, seguida pelo milagre da multiplicação dos pães e peixes. Jesus caminha sobre as águas e salva Pedro, que duvida. Ao chegar em Genesaré, cura todos os enfermos que tocam sua capa. O capítulo revela o poder, compaixão e identidade divina de Jesus em meio à dor, fé e milagres.

Estudo sobre Mateus 14


Todos os versículos de Mateus com comentários 

Naquela época, Herodes, o tetrarca, ouviu a respeito do que Jesus fazia 

e disse aos seus criados: “Esse homem deve ser João Batista, que foi ressuscitado. E é por isso que ele tem esses poderes!”


A fama e o reconhecimento de Jesus haviam chegado até o palácio do rei Herodes. A suspeita do rei de que Jesus fosse, na verdade, João Batista ressuscitado surgiu por diversos motivos. Um dos principais era a semelhança entre a pregação e a mensagem de ambos: tanto Jesus quanto João anunciavam a vinda do Reino de Deus e o iminente juízo divino.


Além disso, os dois proclamavam mensagens contundentes contra o pecado, desafiando as estruturas religiosas e morais da época. Outra semelhança marcante entre os ministérios de Jesus e João era o fato de não se limitarem aos templos; suas pregações ocorriam frequentemente em desertos, montes e outros espaços públicos. Essa escolha de locais e o teor de suas mensagens revelavam uma clara afinidade com os antigos judeus essênios, conhecidos por seu estilo de vida austero e sua expectativa escatológica.


Herodes tinha detido João, amarrado as suas mãos e o colocado na prisão a pedido de Herodias, esposa de Filipe, seu irmão.

Pois João Batista lhe disse: “Pela lei, você não pode se casar com ela.”


O fato de João Batista ter confrontado o rei Herodes ao denunciar seu pecado revela muito sobre a sociedade judaica da época — especialmente sobre os chamados "homens do templo", onde estavam os fariseus, saduceus e mestres da lei para confrontar o Rei? 

Esses líderes religiosos eram rápidos em condenar os pecadores pobres, fiscalizando suas falhas com rigor, mas não demonstravam a mesma coragem para repreender figuras poderosas como o rei. Isso evidencia uma aplicação seletiva da lei: para alguns, ela pesava com severidade; para outros, era suavizada ou ignorada.


Essa postura funciona como uma crítica social contundente. O pecado dos humildes era tratado com dureza, enquanto os erros das elites eram relativizados. É justamente por essa razão que os ministérios de Jesus e João Batista não se desenvolveram entre os círculos dos fariseus e saduceus, mas encontraram eco entre os essênios e zelotes. Os primeiros — fariseus e saduceus — eram profundamente politizados e corrompidos pela sede de poder, dispostos a negociar com Herodes, com César, e até mesmo com Satanás, se necessário, para manter sua influência.


Já os essênios e zelotes buscavam liberdade e justiça, embora por caminhos distintos. Os zelotes optaram pela luta armada, acreditando que a libertação viria pela força. Os essênios, por outro lado, seguiram o caminho do isolamento radical, tentando se desvincular completamente do mundo e de suas corrupções. Ambos, apesar de suas limitações, representavam uma resistência à hipocrisia religiosa e à opressão política que dominavam o cenário da época.


Herodes queria matar João, mas tinha medo da reação das pessoas, pois eles consideravam João um profeta.

No entanto, na festa de aniversário de Herodes, a filha de Herodias dançou diante de todos, e Herodes ficou fascinado por ela. 

Então, ele prometeu que daria qualquer coisa que ela pedisse.

Aconselhada pela mãe, ela disse: “Quero a cabeça de João Batista em um prato.”


Herodes temia o povo, pois João Batista era amplamente reconhecido como um profeta — e de fato o era. João pregava o arrependimento, denunciava o pecado e proclamava o amor pelo Reino de Deus e sua justiça. Falar contra o pecado, no entanto, é algo que incomoda profundamente, mesmo entre irmãos. João e Herodes eram judeus, filhos da mesma tradição, mas Herodes foi corrompido pela sedução e pelo pecado.


Representação artística da cabeça de Herodes




Ao entregar a cabeça de um servo do Deus vivo em um prato — ou, como algumas traduções dizem, em uma bandeja de prata — Herodes revelou o "peso e valor" que o reino das trevas atribui ao ato de silenciar a voz profética. Esse gesto é um reflexo claro da guerra invisível entre o bem e o mal. João, ao pregar arrependimento e justiça, confrontava diretamente os pecados de Herodes e Herodias, que viviam em adultério e cometiam injustiças, inclusive assassinando inocentes.


Essa tensão pode ser vista como uma guerra entre dois exércitos em uma guerra espiritual: o Reino de Deus versus o reino de Satanás. E nesse conflito, tanto o pecado quanto o arrependimento compartilham um mesmo fundamento — ambos são frutos das escolhas humanas. Cada pessoa decide a quem servir, e essa decisão molda o destino espiritual de sua vida.


O rei se arrependeu da promessa que tinha feito, mas por ter prometido diante dos seus convidados, ele deu a ordem para que o pedido fosse atendido.

10 A ordem foi transmitida e João foi decapitado na prisão.

11 Então, trouxeram a cabeça em um prato e a deram para a garota, que a levou para a sua mãe.

12 Os discípulos de João vieram, levaram o corpo dele e o sepultaram. Depois eles foram e contaram isso para Jesus.

13 Ao ouvir a notícia, Jesus saiu de barco sozinho para um lugar calmo. Mas quando as pessoas descobriram onde ele estava, elas saíram de suas cidades e o seguiram a pé.


A expressão “Jesus foi para um lugar calmo e sozinho”, embora pareça um simples detalhe, revela traços profundos da natureza humana de Cristo. Quando perdemos alguém que amamos — um amigo, um familiar — é comum buscarmos um momento de solitude, um tempo para refletir, para “esfriar a cabeça” e lidar com a dor. Jesus, ao saber da morte de João Batista, também buscou esse espaço de recolhimento.


No entanto, a multidão o seguiu. E esse gesto é simbólico: assim como amigos que permanecem ao nosso lado nos momentos mais difíceis, aquelas pessoas não o abandonaram. Elas o acompanharam, mesmo em sua dor. E foi por essa multidão — por seus amigos, por todos nós — que Jesus carregou a cruz. Ele transformou sua dor em compaixão, sua solidão em acolhimento, e sua missão em entrega total.


14 Quando Jesus saiu do barco e viu tanta gente, ele ficou com pena deles e curou os que estavam doentes.

15 No fim da tarde, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe disseram: “Este lugar é muito deserto e está ficando tarde. Mande as pessoas embora, para que elas possam ir aos povoados comprar algo para comer.”

16 Mas, Jesus lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Deem algo para eles comerem.”

17 Eles responderam: “Tudo que temos são cinco pães e dois peixes.”

18 “Traga-os para mim”, Jesus falou.

19 Depois disse para as pessoas se sentarem na grama. Então, ele pegou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu e os abençoou. Depois disso, ele partiu os pães, entregou-os aos discípulos e eles distribuíram os pães para a multidão.

20 Todos comeram até ficarem satisfeitos. Então, com as sobras que juntaram, os discípulos encheram doze cestos.

21 Cerca de cinco mil homens comeram, sem contar as mulheres e as crianças.


Um dos grandes milagres de Jesus — a multiplicação dos pães e dos peixes — vai muito além de um ato de provisão física. A cena de uma multidão faminta, sedenta por "pão", é, na verdade, parte de uma profecia maior. Todo o contexto de Mateus 14, especialmente dos versículos 16 a 21, carrega uma mensagem profética: trata-se de um povo que tem fome, não apenas de alimento material, mas de algo muito mais profundo — uma fome espiritual.


A multiplicação dos pães




Essa multidão representa a humanidade em sua busca pelo Espírito Santo, uma fome que o pão físico jamais poderia saciar. Jesus, ao multiplicar o alimento, não apenas supriu uma necessidade momentânea, mas apontou para uma realidade eterna: Ele é o verdadeiro pão que desceu do céu, capaz de alimentar a alma e transformar nossas vidas.


Outro elemento profético marcante é o fato de que, após todos se alimentarem, sobraram doze cestos cheios. Isso simboliza os doze discípulos, que, após a ascensão de Jesus à glória, seriam encarregados de levar esse "pão espiritual" às nações. Eles se tornariam os distribuidores da verdade, alimentando um mundo faminto pela justiça, pela graça e pela presença do Espírito de Deus.



22 Logo após isso, ele fez com que os discípulos entrassem no barco e voltassem para o outro lado do lago, enquanto ele se despedia das pessoas.

23 Após ter se despedido das pessoas, ele subiu um monte para orar. Anoiteceu e ele estava ali sozinho.

24 Naquele momento o barco já estava longe da terra firme, sendo golpeado pelas ondas, por causa do vento que soprava contra ele.

25 Eram aproximadamente entre três e seis horas da manhã quando Jesus os alcançou, andando sobre o mar. 

26 Quando os discípulos o viram andando em cima da água, ficaram com muito medo e gritaram: “É um fantasma!”

27 Então, Jesus imediatamente lhes disse: “Não se preocupem, sou eu! Não tenham medo!”

28 Pedro falou: “Senhor, se for realmente você, diga-me para ir até onde está, andando sobre a água.”

29 “Então, venha!”, disse Jesus. Pedro saiu do barco e caminhou sobre a água até onde Jesus estava.


Quando Jesus diz a Pedro: “Então venha”, Ele não apenas emite uma ordem — é uma interjeição carregada de significado espiritual e profético. Essa chamada não pode ser compreendida apenas no plano físico. Jesus nos chama em todas as circunstâncias, especialmente em meio às tempestades da vida. E, assim como Pedro, somos convidados a caminhar em direção a Cristo, mesmo quando tudo ao nosso redor parece instável.


Jesus andava sobre as águas




Naturalmente, um homem não pode andar sobre as águas. Da mesma forma, viver neste mundo e anunciar a mensagem de Cristo é como caminhar por um terreno invisível, sem sustentação física. Não somos capazes de fazer isso por nós mesmos — é necessário que o Mestre nos chame, nos sustente e nos capacite.


Por isso, todos os que pregam a verdade — desde o irmão mais simples até o mais renomado dos pregadores — o fazem porque foram chamados. Eles ouviram a voz do Eterno ressoar em seus corações. Essa voz os impulsiona a caminhar sobre as águas da fé, confiando que, mesmo sem chão visível, há uma graça invisível que os sustenta.


30 Mas, quando percebeu como o vento soprava forte, ele ficou com medo e começou a afundar. Ele gritou: “Senhor, salve-me!”

31 Jesus rapidamente o alcançou e segurando-o disse: “Você tem tão pouca fé em mim! Por que você duvidou?”

32 Quando eles chegaram ao barco, o vento parou

33 e os discípulos o adoraram, dizendo: “Você é realmente o Filho de Deus!”


A revelação sobre a identidade de Jesus Cristo, na narrativa bíblica, é progressiva. Não acontece de forma imediata, mas vai se desdobrando ao longo dos acontecimentos. Quando Pedro grita: “Senhor, salva-me!”, ele não apenas clama por ajuda física — está, sem saber, reconhecendo a natureza salvadora de Cristo. E, de fato, Jesus o salva, pois Ele é o Salvador. Como está escrito:


Isaías 43:11 — “Eu, eu mesmo, sou o Senhor, e fora de mim não há salvador.”


Pedro, o mesmo que mais tarde confessaria Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo, é também aquele que revelou a pedra sobre a qual a Igreja seria edificada. E essa Igreja só pode ser salva por Jesus Cristo. Fora Dele, não há salvação. Jesus é o próprio Jeová manifestado entre os homens.


Após esse episódio, os discípulos o adoram — um gesto que complementa a revelação de Cristo como o Deus encarnado, o divino-humano. Isso é significativo, pois a Escritura é clara:


  • Lucas 4:8 — “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto.” 
  • Êxodo 20:3-5 — “Não terás outros deuses além de mim... Não te prostrarás diante deles nem lhes darás culto.” 
  • Isaías 44:6 — “Eu sou o primeiro e eu sou o último; além de mim não há outro deus.” 
  • 1 Coríntios 8:6 — “Para nós, há um só Deus, o Pai... e um só Senhor, Jesus Cristo...” 
  • Romanos 1:25 — “Adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador...” 
  • Deuteronômio 6:13 — “Temerás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás...” Apocalipse 19:10 — “Não faça isso! Adore a Deus!”


Essas passagens afirmam que apenas Deus é digno de adoração. Em Apocalipse, o mensageiro celestial rejeita ser adorado, pois esse direito pertence exclusivamente a Deus. No entanto, Jesus aceita a adoração dos discípulos, revelando que Ele é, de fato, divino.


A Bíblia é rica em figuras de linguagem, e a expressão “Filho de Deus” é uma delas. Em diferentes contextos, vemos expressões como “filho de Adão” (humano), “filho do pecado” (pecador), “filhos de Abraão” (descendência étnica). Da mesma forma, “Filho de Deus” representa a natureza divina.


Os discípulos reconheciam isso, ainda que de forma parcial. A revelação de que Jesus é Deus encarnado — o Pai manifestado como Filho — vai se tornando cada vez mais clara ao longo da narrativa bíblica. É uma verdade que se revela aos poucos, mas que transforma completamente a compreensão da fé cristã.


34 Após atravessarem o lago, chegaram à Genesaré.

35 Quando as pessoas perceberam que Jesus estava lá, espalharam a notícia para que todos na região soubessem. Todos os doentes foram levados até Jesus

36 e imploraram para que ele os deixasse tocar na barra da sua capa. Todas as pessoas que o tocaram foram curadas.


Essas passagens finais revelam conexões com Profecias Messiânicas do Antigo Testamento

Esses versículos revelam aspectos profundos da identidade messiânica de Jesus, alinhando-se com várias profecias do Antigo Testamento:


1. O Messias como Curador

Isaías 35:5–6: “Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se desimpedirão. Então o coxo saltará como um cervo, e a língua do mudo cantará de alegria.”

Jesus cumpre essa profecia ao curar todos os que o tocam, mostrando que o Reino de Deus chegou com poder e compaixão.

2. O Messias como Fonte de Esperança para os Sofredores

Salmos 107:20: “Enviou a sua palavra, e os sarou, e os livrou da morte.”

A multidão reconhece em Jesus a esperança de cura e vida, algo que os salmos já apontavam como obra divina.

3. O Toque na Capa — Um Sinal de Fé

Malaquias 4:2: “Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas.”

A palavra “asas” aqui pode ser interpretada como as extremidades da veste (em hebraico, kanaph), que os judeus associavam às franjas da roupa. Tocar na “barra da capa” de Jesus é um ato de fé que remete diretamente a essa promessa de cura.

4. A Presença do Messias Entre o Povo

Isaías 61:1: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos pobres; enviou-me a curar os quebrantados de coração...”

Jesus não apenas cura fisicamente, mas também se apresenta como aquele que veio para restaurar espiritualmente os que sofrem.



Todos os capítulos de Mateus comentado.         


📑 Créditos da versão bíblica usada são da Blive (Bíblia Livre) 

💬 Comentários são de Lucas Ajudarte

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